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Sobre o Kemetismo

Kemetismo, palavra que deriva do termo egípcio kemet, que significa Egito, na sua própria língua, também é por vezes referido como neterismo, derivado de neter, que por sua vez, significa “princípio”, mas traduzido posteriormente como “divindade”. Originalmente, o Kemetismo conhecido hoje em dia faz parte do reavivamento da antiga tradição egípcia que emergiu como movimento durante a década de 1970. Um kemético seria, portanto, a pessoa que segue o Kemetismo.

Atualmente, existem muitas comunidades keméticas espalhadas pelo mundo, cada qual com uma abordagem diferente de suas perspectivas, que podem variar entre mais ecléticas ou menos ecléticas, porém todas estão dentro da chamada “ortodoxia kemética”, que significa a não hibridização com outras tradições e sistemas místico-religiosos. É muito importante salientar que a antiga “religião” egípcia não era assim chamada pelo seu povo originário, já que a noção de “religião” é uma conceituação moderna.

 

Então como podemos chamá-la? Em aspectos culturais, sociais e filosóficos (metafísicos), a visão antiga egípcia incorporava elementos que hoje são classificados ou reconhecidos como cosmovisão, ou seja, todo o universo, incluindo seres humanos, animais, plantas, natureza em geral e os espíritos, como um Todo vivo e integrado. Esse era um sistema complexo de crenças, realidades e de práticas místico-religiosas que faziam parte da antiga sociedade egípcia. Esse sistema que fazia parte da tradição social egípcia, era parte integrante de todos os aspectos da vida: social, individual e cósmica. Esse antigo sistema não era uma instituição monolítica, mas consistia em um vasto e variado conjunto de crenças e práticas, ligadas por seu foco comum na interação entre o mundo dos humanos e o mundo do divino. 


O kemetismo, em suas variadas formas, pode apresentar as seguintes bases: 

 

1

Maat: a prática da concepção egípcia da harmonia cósmica universal, que é centralizada em Maat, conceito que engloba vários significados como “verdade”, “justiça” e “ordem”, executada nos níveis individuais, sociais e universais.

2

Ankh: a ideia de que todo o universo é animado e preenchido de energia vital, indica que o todo e as partes estão integradas, e sofrem ação direta das potências naturais em diferentes realidades (multiversos).

3

Neteru: a concepção kemética sobre os fenômenos da natureza, particularmente os que se referem às forças divinas representadas pelos Neteru (plural de Neter), é dado pelo reconhecimento da manifestação destas potências como princípios cósmicos reais. São forças regentes, atemporais, imanentes, cujas manifestações criam inter-relações complexas, refletindo e atuando uma infinita interação de forças.

4

Akhu: como as culturas animistas e totêmicas nilótico-africanas possuem múltiplos elos em comum, a tradição kemética tem como base o culto à ancestralidade (akhu), os seus adeptos se agrupam em clãs que, por sua vez, cultuam: um espírito ancestral principal, uma linha hereditária consanguínea e suas próprias ancestralidades familiares, reforçando a identidade de uma egrégora.

5

Unut: uma comunidade kemética envolve grupos de práticas, composto por um número mínimo de membros, promovendo conhecimentos em egiptologia, práticas devocionais e serviços comunitários.

Nesse sentido, o Kemetismo não é um sistema prescritivo como o são as religiões ocidentais e tradicionais, baseadas em monolitismos, as quais conferem o “dogma”, mas no seu inverso, que promove sentido social e individual na trajetória de um caminho de introspecção pessoal (místico), baseado em códigos não-rígidos, morais, de conduta, culturais, etc, O reavivamento dessa antiga tradição é semelhante aos outros caminhos e tradições que passam pelo mesmo processo de reconstrução.

Para saber mais: acesse o nosso Guia Completo de Kemetismo

Este texto foi reproduzido neste vídeo

Advertência: Em primeiro lugar, este texto não tem por objetivo ser o vetor de uma verdade, porque o Kemetismo não possui uma verdade apenas, já que são múltiplas as suas manifestações, tais como eram as próprias manifestações em Kemet. No entanto, em respeito à essa multiplicidade, podemos deixar delineadas as bases fundamentais dos princípios do Kemetismo que são inerentes a praticamente todas as suas comunidades.

Algumas palavras sobre o reconstrucionismo moderno

Para compreender o reconstrucionismo, é preciso entender o processo na década de 1970, no surgimento de novos conceitos, como neste caso, o neopaganismo. O termo “reconstrucionismo” é uma abordagem interna do paganismo que emergiu um pouco antes, no final da década de 1960 e que ganhou força, somente a partir dos anos 90. 

 

No entanto, o fato do reconstrucionismo buscar elementos, mesmo que seja com intenção clara de não misturar elementos de diferentes culturas, a ênfase dada na perseguição histórica da realidade nativa, representa, às vezes, um tipo de reencenação anacrônica, no intuito de recriar os mesmos elementos e aspectos das antigas tradições. Esta continuidade, no sentido de refundar uma determinada tradição antiga sob o contexto atual, em lugar e tempo diferente daquela, e sobretudo mais especificamente, em refazer práticas rituais, sem o contexto cultural presente, requer se não, um exagerado esforço de imersão consciente e, mais do que isso, atemporal.

 

Embora, fisicamente, seja praticamente impossível retornar à mesma e idêntica vida cultural de qualquer passado humano, ainda mais em uma cultura tradicional, divorciada do perspectivismo da visão ocidental sobre tudo, pode-se, em última instância apreciar os reflexos da subjetividade e alguns aspectos do simbolismo metafísico presente nos arcabouços herdados. A ideia de recriar um tal mundo desses de simbolismo puro, ou ortodoxo, a partir do nosso único e monolítico ponto de vista, é aterrar totalmente o que ainda resta de simbologia e herança sagrada. 

 

A ideia de como as culturas e sistemas de crenças de fato são, multifacetados, diversos, multicausal, das origens herdadas pelos antigos egípcios e, posteriormente, absorvida e transmitida em partes pelo hermetismo, podem ter inestimável valor na orientação do Kemetismo, na descoberta de sentido e de propósito, apesar da anormalidade das atuais circunstâncias. 

 

Assim, conclui-se que o Kemetismo pode ser entendido como um sistema tradicional que incorpora diversos aspectos e elementos do totemismo, animismo e cosmovisão do antigo Egito, porém sem ser definida por eles. 

Kemetismo Brasil

 

 

Acesse este texto na íntegra em PDF

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